domingo, 15 de setembro de 2013

As meninas

Havia uma menina que sonhava com um príncipe
Casaria na igreja, virgem, toda de branco
Queria filhos, uns três
Seria feliz para sempre

Havia uma menina que gostava de estudar
Queria ser médica
Ter dinheiro para viajar pelo mundo
Não depender de ninguém

Havia uma menina que queria curtir a vida
Não queria responsabilidades
Não queria cumprir regras
Não teria nenhum apego, a nada

Havia uma menina que queria ser exemplo
Queria dar orgulho para família
Ser boa com todos
Ser brilhante em tudo

Havia uma menina que era todas as outras
E que se transformou em mulher
Politicamente correta
Numa vida socialmente normal

Todas as meninas continuam vivas
E mantém viva essa mulher
E todos os sonhos que ela carrega
E suas crises existenciais

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Rotina (im)produtiva

Maria acorda cedo, com disposição para trabalhar o dia inteiro, dormira cedo na noite anterior, o dia promete ser produtivo. O trabalho é acadêmico, ela precisa escrever um trabalho, está em cima do prazo. 

Depois do café da manhã, Maria vai para sua mesa, liga o computador e... abre o Facebook! Calma gente, ela só vai “dar uma olhadinha” e postar: “Preciso estudar o dia inteiro!”. Depois disso, fecha o facebook e... abre o email! Bom, vamos combinar que isso é necessário. Lê emails, responde alguns e sai do email.
Hora de abrir o Word. Mas antes... só mas uma “olhadinha” no facebook, pra ver quem curtiu a postagem. Word aberto, página em branco, cursor piscando, e Maria olha pro relógio... já se passaram quase três horas! Mas tem tempo, ela não se desespera.
Começa a escrever... digita, apaga, digita, apaga, digita, apaga... E a escrita não evolui. Maria não consegue se concentrar, não consegue dar um rumo para o trabalho. Abre outro documento no Word, dessa vez pra fazer um roteiro. Coloca os tópicos do que deve escrever. Agora vai! Ela fica tão animada que se dá o direito de entrar no facebook. A postagem que fez no início da manhã tem comentários, ela responde, fala com os amigos inbox, diz que “tá rendendo”, conseguiu fazer os tópicos! Passa o tempo, o bate papo tá divertido... até que um amigo se despede dizendo que vai almoçar. Já é hora do almoço!
Maria almoça, conversa com mais alguém (dessa vez ‘ao vivo’) e volta pro computador. Precisa escrever. Olha os tópicos que tinha escrito antes... Mas o que é isso? O que ela estava pensando em escrever naqueles tópicos? Eles já não fazem mais sentido... Então ela apaga todos eles! Não consegue se concentrar, se sente cansada, frustrada por não estar evoluindo no que precisa fazer.
Vai começar a pensar em outros tópicos... mas antes: Facebook, e depois email (a tarde inteira fica nesse revezamento). Algumas pausas para o café, esticar as pernas, conversar com algum amigo, fazer um telefonema. Até que chega a hora da academia, fim de tarde, ela precisa ir, pois não pode viver no computador “estudando”.
Depois da academia, Maria toma um banho, come alguma coisa, liga para a mãe, dá notícias e diz que não pode falar muito, porque tem muita coisa pra estudar. Volta pro computador... mais uma sessão de facebook e email e quando vê já são 21:00h! Se sente mal por não tem conseguido render aquele dia, mas não pensa em virar a madrugada... Ela precisa dormir, não pode ficar até tarde porque amanhã tem que acordar cedo... o dia vai ser produtivo!
Sai do facebook, do email, de todas as páginas de blog que ela tanto curte ler, e resolve fechar o documento do Word (aquele que ela abriu de manhã), página em branco, cursor piscando, e ela clica em “fechar”. Nessa hora aparece uma janelinha: “Deseja salvar alterações?”  Não há o que salvar...

E assim passa mais um dia na vida de Maria. Dias semelhantes passam na vida do Fabrício, do Tiago, da Fabiana, e de tantos outros pós-graduandos!

sábado, 7 de setembro de 2013

Eu era feliz... E SABIA!

Sabe aquele dia que por mais que você saia, converse, beba, ria, e até dance, o vazio permanece? Hoje é um desses dias pra mim...
Acabei de chegar de uma reunião de amigos, churrasco, cerveja, conversa boa... Eu parava no meio do tempo, era como se tudo aquilo não fizesse sentido, como se eu não devesse estar ali. Mas eu me enturmei, e o dia fluiu bem, conversei, ri, riram comigo, foi divertido... mas o vazio continuava.
Não, hoje eu não queria estar ali, não queria estar com os amigos. Hoje eu queria estar em casa, na casa onde eu cresci. Queria ter tomado um banho de rio, e depois ter almoçado com a minha mãe e o meu irmão, queria ter brigado com ele pelo lugar na mesa, queria ter ouvido minha mãe reclamar porque eu só estava comendo a batata frita. Depois do almoço, eu queria sentar na frente de casa e comer seriguela esperando o sol dar uma trégua para poder andar a cavalo...
Assim se passavam os fins de semana na minha infância, e sei que não viverei mais isso. Não moro nessa casa, não sei de nenhum rio por perto, não tenho um pé de seriguela no quintal, não tenho um cavalo... São momentos bons, que ficaram no passado. Uma etapa que eu vivi intensamente, e que nunca vou esquecer, mas passou... E era preciso que passasse, porque assim é a vida!
Mas o vazio permanece, e mesmo sabendo que eu não tenho mais a vida que citei acima, uma coisa eu sei que supriria toda essa saudade: o colo da minha mãe! Até hoje, com 23 anos eu deito sempre que posso no colo materno, e é como se ali tivesse toda minha história, todas as lembranças... é ali que tudo se preenche, tudo se resolve...

É desse colo que eu preciso hoje, só que hoje ainda não é dezembro...