quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Enquanto isso no México...

Desde o final de setembro tenho ouvido falar sobre o caso dos estudantes Mexicanos que desapareceram após um protesto na cidade de Iguala. Como estava bem envolvida com atividades(acadêmicas e militantes) de setembro até o fim de outubro não consegui dar a esse fato a atenção que ele merecia. Enfim, resolvi parar para ler notícias e assistir alguns vídeos sobre o caso. Ressalto que quase nenhuma das manchetes é brasileira. A cada notícia eu fico mais chocada com o que aconteceu, e como esse caso apesar de ter uma repercussão mundial, está de certa forma invisível e insignificante para muitos (e falo aqui especialmente dxs brasileirxs). Afinal, o que está acontecendo no México?

Em 1968, com o crescente número de manifestações estudantis no México, o Governo mexicano ordenou que o exército ocupasse o campus da Universidad Nacional Autónoma do México (UNAM), essa decisão não deteu os estudantes e culminou com um massacre que matou entre 200 a 300 estudantes e ficou conhecido como “Massacre de Tlatelolco”. 
Recentemente, no dia 26 de setembro, 46 anos depois desse massacre, alunos de uma escola com orientação socialista reconhecida pelos militantes de esquerda do país (a Escola Normal Rural Raul Isidro Burgos, em Ayotzinapa – México), organizaram um protesto nas ruas da cidade de Iguala para reivindicar verbas e transporte que possibilitasse a participação desses estudantes nas manifestações que aconteceriam na Cidade do México marcando o aniversário do Massacre de Tlatelolco. Ironicamente, esses estudantes que reivindicavam participação em manifestações que mantém viva a memória dos estudantes massacrados em 1968, foi também alvo de repressão política e militar, que resultou em mortos, feridos e desaparecidos.
Ao saber da intenção de protesto dos estudantes, o presidente da Câmara ordenou à polícia que evitasse a entrada dos estudantes na cidade “a qualquer custo”. Atendendo ao que foi demandado pelo governo, o veículo onde jovens estavam para se dirigir ao local do protesto foi interrompido pela polícia, causando um confronto que matou 6 pessoas e deixou cerca de 25 feridos. Além disso, 43 estudantes foram presos e retirados do local pela polícia. A polícia ENTREGOU esses estudantes à chefes do narcotráfico. Passados vários dias de desaparecimento dos jovens que foram levados pela polícia, no último dia 08 de novembro 3 integrantes do narcotráfico confessaram a morte dos 43 estudantes. De acordo com eles, os estudantes foram mortos e incinerados.
Em resumo: O governo mandou que a polícia impedisse o protesto, a polícia enfrentou os estudantes, matou 6, feriu 25, e prendeu 43. Posteriormente entregou os 43 estudantes presos para chefes do narcotráfico, que afirmam ter matado TODOS!

- Aconteceu no México em 1968: massacre de estudantes por repressão política e militar
- Aconteceu no México em 2014: massacre de estudantes por repressão política e militar


Enquanto isso no Brasil... 

Tem gente pedindo intervenção militar e a volta da ditadura!
Vivemos por aqui o mais longo período de democracia ininterrupta, depois de 21 anos de ditadura marcados por forte repressão, tortura, e diversas formas de violência física, sexual, moral e psicológica. 
Eu não vivi essa época, assim como não vivo no México. Mas não é porque não sinto na minha pele que isso não dói em mim. Todos os estudantes que foram massacrados no México eram de alguma forma meus companheiros. Todos que sofreram com a ditadura no Brasil também eram ou são meus companheiros(as). Por tudo que já li sobre casos de intervenção militar eu não consigo entender que alguém clame por isso.

Esse texto é na verdade só um desabafo, que nem de longe demonstra a indignação que sinto ao ver casos como esse acontecendo. Como disse Che Guevara: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros!”