segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Enquanto eu respirar, vou me lembrar de você...

Hoje eu tenho 26 anos e há 16 anos o dia dos pais deixou de ser motivo de festa para ser um dia de lembranças. É estranho, mas dias antes dessa data eu andei pelas ruas olhando presentes e pensando o que eu compraria, o que o meu pai gostaria de ganhar... consigo imaginar e até ouvir o que ele falaria quando recebesse meu presente, sempre reclamando sobre o quanto eu tinha gastado e terminando a “reclamação” com um abraço e um sorriso.
O meu pai era um homem do campo, daqueles que nunca ficava na cama depois das 5h da manhã. As 7h da manhã ele já estava de volta do “primeiro turno” do trabalho. Sentava na mesa para o café e enquanto a minha mãe me mandava tomar banho antes de ir pro colégio ele, que estava sentado na mesa, me colocava no colo e me agarrava dizendo pra minha mãe que eu não ia tomar banho pq tinha acordado muito cheirosa. E ali, no colo dele, eu escapava do banho e qualquer outra bronca que a mãe insistia em me dar.
Terminava o café e ele saía pra trabalhar de novo, mas antes me repetia a frase de sempre: “Presta bem atenção na aula, estuda muito pra ser a minha doutora”.
Depois disso eu só encontrava meu pai no fim da tarde, quando ele chegava em casa e me colocava no colo dele na rede ou na cadeira de balanço. Interessante que por mais que ele me mandasse estudar ele nunca me perguntava como tinha sido a aula, ou se eu tinha temas para fazer. Quando o meu pai chegava em casa ele só me perguntava do que eu tinha brincado, com quem eu brinquei, o quanto eu me diverti, e se alguém tinha me incomodado, pq se alguém me incomodasse ele “ia dar um jeito nisso”. Hahahaha
Eu tinha um super herói, e por isso eu me sentia super protegida. Não importa o que acontecesse, o meu pai sempre ia dar um jeito, ele sempre ia me proteger.
Nós éramos cúmplices e confidentes. Comigo ele podia comer tudo que todos proibiam ele... e esse era o “nosso segredo”. As tantas coisas que eu fazia escondido da minha mãe, ele sempre ficava sabendo, e ainda ria dizendo o quanto eu era esperta. Lembro bem do dia em que contei pra ele que todos os dias eu tomava banho pelada na cachoeira, pra não molhar a roupa e a mãe não descobrir... Ele riu muito e me disse “ela nunca vai desconfiar disso, pode continuar. Onde já se viu proibir meu peixinho de nadar?”
Sempre que eu ficava doente, ou com uma dorzinha qualquer, o meu pai deitava comigo num quarto escuro, me pedia pra respirar fundo fechar os olhinhos e só pensar em coisas boas...
As pessoas que conviveram com a gente tem um pouco de noção do quanto nós éramos ligados, do quanto pertencíamos um ao outro, e do quanto eu sofri quando ele se foi. Mas só eu e ele sabemos de fato o quanto o nosso laço era forte, só eu sei o quanto doeu não acordar todos os dias com ele chamando, o quanto doeu não ter ele pra me colocar na cama, não ter pra quem contar tudo de legal que eu tinha feito no meu dia. Doeu de um jeito que parecia que não ia passar nunca. Mas passou... A dor foi se desfazendo e deixando só a saudade tomar conta... E com a saudade eu aprendi a conviver.
É uma saudade boa pq me faz lembrar que eu tive o melhor pai que eu poderia ter. É uma saudade que me faz sentir orgulho de ser filha daquele homem, de carregar o nome dele, de contar suas histórias, as nossas histórias. É uma saudade que me faz sorrir com cada lembrança. Uma saudade que é amenizada naqueles sonhos que me fazem ter certeza que ele nunca me deixou, que ele acompanha tudo que eu faço, e que de alguma forma ele ainda cuida de mim.
Mas essa saudade às vezes vira nó na garganta, e num “dia dos pais”, por mais que passe o dia tentando abstrair o significado disso, esse nó na garganta me faz companhia... até que chega a hora de dormir e as lágrimas escapam. Eu choro calada e me culpo pq eu deveria ser mais forte. Um nó começa a apertar na garganta e no coração, e dói... Como faz pra amenizar essa dor? Segue a receita do pai:
“Respira fundo, fecha os olhinhos e pensa em coisas boas”

E assim eu dormi, pensando em todas as coisas boas que eu vivi com ele!

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